30 de março de 2012

Cavalos marinhos.

Cavalos marinhos. Fale deles para mim. Explique a natureza. Explica para mim a tua beleza. Desconhece teu sorriso. Traz a ventura do teu rosto com a esperança nele contida. Naqueles dias que você existe, minha supremacia sobre todos é absoluta. Me parte a vida naquilo que está você.

Cada alvorada, cada remanso, cada ocaso do sol, ali estarão nossas imagens. Nossa teimosia em inventar o amor. Me diz o que acontece enquanto não existimos. Quem dirá aquilo que sou, se não você? Quem serei eu, se não tudo aquilo que está dentro de você? Só um alguém, de acordes perdidos, sem melodia, nem tom. Não desista de nossa prosa. Dela tiro meu mundo.

Pode continuar, os cavalos marinhos ali estão, sob as águas, flutuando entre nós dois. Não haverá interrupção. Enquanto eu procurava achar alguém, eles estiveram sempre ali. Meu amor por ti que não havia nascido. Nossas paralelas que se cruzaram, não razão improvável do mundo e de nossos espíritos. É estranho aquilo que me descreve. O nosso encontro. Comento contigo nossa aparência. Sorria contigo nossas diferenças. Fazer nós dois será tudo que me resta? Estará aí quando eu complete a resposta? A nossa amizade também estará na razão de um amor em asilo?

Tenho andado distraído, na cama tuas conversas têm todo o tempo do mundo. Sempre em frente quando o sagrado e selvagem do nosso comum chamar. Te darei a eterna tempestade do tempo para que você me abrace forte e me conte dos cavalos marinhos, no escuro.

1 de dezembro de 2011

Momentos de incertezas.

O país acordou hoje com novas cautelas expedidas pelo governo federal, via Ministério da Fazenda, com o intuito de reforçar outras já existentes. É um arsenal pronto e instalado contra eventuais efeitos de contaminação internacional. Sendo, majoritariamente, um produtor de commodities, o Brasil depende dos grandes países industrializados para manter-se fora da turma da recessão econômica. Os resultados desta prevenção virão com o tempo, mas é de certa forma confortante, saber que o país está vigilante.

É fator claro e presente nestes anos de governo trabalhista, que o Brasil ganhou um novo motor econômico: seu crescente e quase inesgotável mercado interno em expansão. Mas não será possível contar e assegurar-se sempre desta base da economia para refugar medidas prudentes em momentos de extremas incertezas. Pois, enfim, o que deve ser protegido é a família ordinária brasileira; a camada assalariada que sempre será a mais atingida e sofredora em eventuais momentos de arrocho.

O povo deve estar ciente do momento frágil que todos os velhos mercados percorrem neste instante. Cada qual com suas mazelas e gargalos, luta há pelo menos três anos para sair deste temporal que teima em não se desfazer. De um lado do Atlântico, já saiu o presidente irresponsável e inconsequente, deu lugar à uma promessa democrática que, até agora, não soube ou não quis adotar medidas mais exigentes e duras contra a escassez de crédito em seu país. Do outro lado, sucessivas mudanças de governos também foram inócuas. O problema da velha Europa não é a ideologia de seus governantes, mas sim, um desenho que não se terminou de traçar no cerne da União Europeia: a desvinculação plena da política fiscal de cada país em favor de um governo central europeu. 

Este problema, menos econômico que político, não tem fácil saída: como gerar e garantir uma reserva mínima de legitimidade para um governo econômico central? Que base e desenho político deverá ser elaborado para criar fatores que culminem com um novo tipo de convivência entre estados, nações e entes multilaterais?

Enfim, tanto no Brasil como alhures, são momentos profundos de incertezas. Não de ajustes no desenho institucional vigente, mas uma busca de novos mecanismos e meios sociais, econômicos e políticos que resguardem um bem-estar coletivo e global. Ver o Brasil como uma possível solução e não, pelo menos por enquanto, como mais uma vítima, deverá ser um sentimento único e inédito na história deste país.

13 de abril de 2011

Duas Cidades.



 

Dai-me o que te sobra, pobre defunta. O que te resta é bem pouco, quase nada. Antes do teu derradeiro suspiro, realenta minhas memórias. No teu olvido estará minha tristeza. Na tua lembraça, minha alegria. Não ouse despertar! Da tua presença vivem os abutres. Relute, e eles persistirão. Definhe, e eles irão. Me alegro da tua partida, pois de ti vem a vida deles. Não reclames, compadeço da tua resistência, mas não reclames. Sinta minha mão úmida na tua face, toma um afago do calor do meu sopro; não ouse disto recobrar sentidos e forças. Simplesmente, te peço, vá.

Imagino. Um dia deverás ter tido alamedas, passeios e arremedos de ramblas. O sol deveria, depois de uma espera ansiosa, achar-te uma das mais belas, das mais iluminadas e arejadas. Inflada duma brisa verde e crespa, que te percorria, por tuas sendas, soprando por dentre tuas esponjinhas. Que delícia!

Ao norte, teu mar, impassivo e inquieto, na eterna cobiça do teu costado. Maravilhado com esta esplendorisade em forma axadrezada. Suspirando através das ondas, relutando em te deixar ganhar espaço e, ao mesmo tempo, como prova de um amor indelével, entrega-te território. Um ou dois momentos de charme, mas até a retumbância deste gigante cede aos teus anseios. Sedutora.

E a minha face? Uma dentre tantas? Tomava gosto por ti na minha infância. Eu permitia, com inocência, que tuas paragens fossem gravadas nos preciosos registros da minha memória. É verdade... não apenas tuas paragens, mas teus aromas árboreos. Aquelas tuas sombras, usinas de frescor, enfrentavam teu grande amor celestial. Por onde andará aquela tua beleza de outrora, minha preciosa?

Ir e vir. Tamanha liberdades que me davas. Não queria que o tempo passasse enquanto te percorria, preciso te confessar isto também? Meus olhos eram teus em cada reparo de esquina. Curtia mesmo estes teus infinitos caminhos. Ah! E quantos prazeres bobos existiam perdidos por eles. Quantos destes prazeres se foram sem que deles, em ti, nada fora gravado.

Não vou prolongar nossa agonia, não vou. Mas não poderia deixar-te sair daqui sem um par de recordações. Uma delas era quando a chuva molhava teus mantos. Aliás, antes mesmo desta chegar, tu permitia um aroma ser exalado, avisando da chegada daquela. O arauto do vento fresco trazia um alívio. A melancolia da chuva, através de ti, também significava relento. Tuas lagoas e riachos suprimidos eram os únicos a refugar. Não queriam desaparecer, assim, de pronto e sem vestígios. Hoje estão, além dos subterrâneos, apenas nas memórias.

Já não te sobras tempo. Nem te atrevas. Bem sabes que as forças contra tua sobrevivência hão de persistir. Então? Foge daqui. Ouves? Ainda reverba, no pisar destes que insistimos em ti, o pio da tua alma, que desconfiava já haver partido. Néscia. Te conforto. Muitas semelhantes de ti são hoje apenas escombros, não serás a primeira, meu amor. Não me atrevo a pronunciar o nome delas aqui, no teu leito, mas foram muitas. Levadas, saqueadas, reerguidas e, novamente, destruídas. Avassaladas pelos passos dos homens, tal qual teu futuro. Nossa vida em comum chega ao fim.

-----
Tinha este texto repousando na minha área de trabalho. Se está correto e claro, eu não sei, mas reflete, com sinceridade, os sentimentos atuais que tenho em relação à cidade de Fortaleza. Sou defensor eterno do estado social. Jamais enfrentaria uma administração que compartilhe desta ideia. Mas é através da percepção de um cidadão ordinário com este escriba que fiz estas inquietas reflexões.

Não desconsidero outros aspectos da administração municipal. Apenas questiono o aspecto estético e urbanístico, componentes atrativos na busca de uma urbe civilizada. É a aparente falência das ações desta administração.

Enfim, no dia do aniversário de 285 da minha cidade, postei meu texto-desabafo. De todas as formas, parabéns Fortaleza!

7 de dezembro de 2010

Love will tear us apart.

Morre não, bloguezim, morre não!

Assuntos não faltam. Assuntos verdadeiros não faltam. Falar por falar, escrever por escrever? Não. Escrever por prazer, para construir e edificar. Realçar um pensamento, transmutar uma ideia. Assassinar outras. Enfrentar a fácil ignorância absoluta da sociedade, imbuída e banhada em um oceano de meios, no meio de uma seca de atitudes.

É uma grande lástima. Tanto que se pode mudar, e tanto que se continua no erro, no marasmo. Uma cidade cinza, antes colorida e fluía. Uma cidade estancada no descaso de século passado. Uma política que nem sequer menção merece. Um afã de cidadania contra uma muralha de egos. Matem-se! Melhor assim seria. Nebuloso porvir. Energia desperdiçada cobra fatura, cedo ou tarde.

Morre não, bloquezim, morre não!

7 de julho de 2010

Ciudades Eternas.


Habrán ciudades eternas
En sus calles, todavía, los pasos son de silencio
Sus ruidos caminan por acá
Sus voces acuestan en otros lechos. 



Habrán ciudades eternas
En sus días, todavía, no existen sombras
La suciedad de los zapatos dejan huellas por acá
Los amores desquiciados suspiran bajo estas noches



Sí, la vida allá aún espera
Espera por la muerte
La última despedida bajo nuestro Sol

Que habrá de traer
Para la ciudades eternas
Todas las sonrisas y lágrimas

30 de novembro de 2009

Notícias da Concretolândia, (Concretoland Chronicles, para os bilíngües)

O apartamento queimou, o gerente endoidou e os preços estão em euro. Putz!

Chapéu-de-Couro, vulgo Pimpolhão Bonitão, terminou suas aventuras pelas gélidas terras de Mossoró. E nos diz:

- É muito bonito Mossoró, você vê os pardais voando, batendo uma asa e com a outra se abanando.

Fez parte, por dois dias, da cena cultural da capital do hotel das águas calientes. Conheceu poetas, escritores, bibliófilos, dono de famoso botequim e até a potiguar Miss Brasil, que não é a 2000, mas é a doismiu inove. Solenemente dispensada, pois atende pela mesma alcunha da finada. Faltaram na lista cordelistas e repentistas, mas a cidade como aquela não se consome duma vez. Que o diga Jararaca!


Logo, foi passear nas desmedidas salinas de Areia Branca, que, diga-se, pronta para um formoso embuste num fim de semana de veraneio, acompanhado de amigos beaujolais. Engôdo nas tripas não impediu aos seus ouvidos a chegada da prosa daquele gigante do sal. Mais de quarenta anos na labuta do cloreto mais essencial. Foram-se os homens. Deles, apenas doutros dependem a memória. Foram-se os lombos carcomidos, chegaram as esteiras inabaláveis. Curado pelo sumo do caju, o dia quase que realmente começou. Pode participar, já de maneira ativa, do resto da jornada.

Se o caju curou as tripas, os olhos foram premiados pelas marolas da beira-mar areia-branquense. O passeio chamou o homem à pesca, mas num pode este lançar anzol, já que de suas tralhas não tinha a companhia. Logo no Tirol, pensou ver alguma barcaça, mas não; tampouco saiam navios singrando para o horizonte, com marinheiros ignorantes do destino. Apenas um choque-choque das ondas nos moles e narrativa de douto filho.

A cidade de Mossoró é repleta de encantos. Apesar de calorosa, permanece arejada e conta com vistoso zelo. Casarões históricos ainda existem, com moradores, jardins, vizinhos, etc. Sem cara de persistir, apenas a frugal participação na vida da cidade. Respiram como fazem já há algumas décadas. Babinha de inveja escorreu da boca do cearense. 1326 é o número do encanto, desconhecendo o nome do logradouro.


Assim como existem estes diamantes arquitetônicos, outros de carne e osso têm maior valor. Peças que fazem das ruas de Mossoró artérias para circulação destas riquezas. Hilda e Zé Rodrigues são os nomes de algumas das peças mais antigas, esmerilhadas de boas memórias. Das mais moles, cepas de nome David e Arcanjo, trazem a certeza de fartura no futuro. Boas novas sempre virão do oeste potiguar. Todas, se escaladas em quilates fossem, não haveria arca no mundo para suas dimensões.

E estar no ar a pesquisa do ciclista Caucaia: qual o melhor time do futebol cearense?

A. Ceará
B. Icasa
C. Fortaleza.
D. Calouros
F. Ferroviário

Não vale colar. Por falar em duas rodas, hoje tem passeio biciclistíco e contamos com a participação de Chico Pezão.

Abs e boa semana. Gúdi uique!

Difícil decolagem.

Em um país repleto de limitações institucionais, recheado com uma sociedade das mais desiguais que existe sobre a face do globo terrestre,...