Ontem inaugurei o refrator de 120mm da Celestron. Espero que dure muito tempo e sirva para muitos outros além de mim, já que meus limites com os números são imensos. Chegou pela manhã e em menos de uma hora terminei sua montagem. Bastante fácil e bem explicada no manual. Muitos receios que tinha foram afastados nos primeiros instantes que conhecia cada peça.
Fiquei olhando os eixos de declinação e ascensão e me perguntando que desafios estes me iriam apresentar na noite. Bom, terminado tudo, apenas fiquei teorizando a coisa através dos apêndices do manual.
Escureceu. Aliás, antes mesmo de consumar-se a ida do dia, que por aqui tem algo que lembra os rosáceos dedos da Aurora, já podia identificar a Polar e terminar de fazer o dito alinhamento. Bom, até aqui, fácil outra vez. O que ninguém explicou foi que o pior viria depois, quando tive que manipular o eixo de ascensão. Putz! Ainda não terminei de entender aquilo. O pior foi que acertei no começo, mas depois errei total, ainda tentei mais duas vezes e não deu certo. No final, não atrapalhou muito.
Vamos as observações:
Alvos pretendidos: depois da Polar, Alnitak( a estrela mais oriental do Cinturão de Órion) para calibrar o AR, a nebulosa de Órion(M42), Andrômeda (M31), Sirius, Lua e Marte. Alvos de fato: Polar, Alnitak, M42, M31, Marte, Sirius, Lua, Pleiades e Saturno.
Crônica da noite: ao ver o campo aberto ao redor da Polar, todas aquelas (4) estrelas que me permitiram, por um instante, fazer parte de suas existências, senti um prazer em estar ali como se apenas e somente eu fosse o agraciado com aquela visão. 1º momento “pagou o telescópio”. Fiz o alinhamento de AR com Alnitak e, como disse antes, funcionou. Depois me dirigi a, já conhecida de outras noites, M42. Confesso que foi quase uma decepção, mas sabia que com os acessórios adequados irei desfrutar de melhores visões no futuro. Então, como minha alma não tinha decolado tão alto em sua direção foi fácil trazê-la de volta e ir caçar a filha de Cassiopéia.
Para testar as alineações dos eixos DEC e RA coloquei, tentei, colocar diretamente os dados copiados no Stelarium. Para minha decepção não tive grande êxito, mas creio ser muita exigência comigo mesmo, pois não devia fazer 40 minutos que começara a operar o “Zorro Estelar”. Daí, com os binóculos fui direto na “fumacinha” Andrômeda. A Lua estava perto e com seu globo iluminado pela metade tive a certeza que, como na M42, não estaria em uma noite para objetos de céu profundo (DSO).
Afinei o telescópio com a buscadora e em alguns segundos coloquei a galáxia completa no meu ponto de mira. Tomei fôlego para por meus olhos na ocular principal e... a confirmação que esquecesse os DSO gritou forte e me resguardei de perseguir-los pelo resto da noite. Lua! Onde estás?
Bom, passei a observá-la. A ou o tal do terminador(a) estava muito bem localizado. Trazendo muitos detalhes da zona meridional de nosso satélite. Se percebia bem uma cordilheira central, extensa e com pequenas crateras, pela pouco que se vê na foto é possível identificar esta zona. Fiquei olhando diretamente e também com visão periférica. É um exercício interessante, pois muda a perspectiva da observação. Tentei fazer fotos, mas é quase impossível alinhar ocular-câmera. No fim, consegui uma nada mais. Mixuruca.
Ainda chateado por Andrômeda e M42, e um pouco por não ser possível fotografar, fui buscar Marte. Estava bem perto da região. Sem dificuldades. Outra vez tomei fôlego depois de colocá-lo na buscadora e... bimba! Delícia! O famoso Marte, em meu telescópio! Lembrei de todas as notícias, filmes, livros, imagens, sondas, missões e especulações sobre aquele pequeno ponto vermelho. Mais uma vez a sensação de ser o único em gozar daquela visão.
Um descanso, entre outros mais breves, na sala e... voilà! A Lua estaria ocultando as Pleiades nesta noite! A mesma Lua que me atrapalhou com outros DSO agora me chamava para um passeio com Alcione. Eis que no mais rápido movimento da noite chego com os 120mm de vidro para testemunhar! Que bonito estava. A ocultação não tenho certeza de ter acontecido nesta noite, mas em vê-las juntas no meu tele pela 1ª vez foi outro momento inesquecível.
Por fim, fui passear por Sirius, que brilho! Que luz tem! Bem plácida sua vista, admito. Mais um descanso e lembro que Saturno deveria estar por ali em algum lugar perto do zênite.
Lá me vou para ele com os binóculos e achei. Vamos com o tele. Pelo planeta estar tão alto todo o conjunto buscadora-ocular roçou as pernas do tripé. Centralizado o alvo, nem fôlego tomei, pois como Marte estava um ponto vermelho, como estaria Saturno, igual? NÃO! Foi o melhor momento da noite, em cor amarela! Momento pagou o telescópio 2! O planeta pequeno, mas com certeza não era um ponto como Marte. Tinha tamanho suficiente para discernir seu corpo e o disco formado pelos anéis. Nada além, mas para mim era o suficiente. Poder ver uma cor também representou algo mais. Desfrutei da vista...
Depois tentei duas vezes recalibrar os eixos, mas não consegui (AR outra vez). Vi que estava cansado, consumiu três horas a minha nova brincadeira. Comecei a recolher a tralha. Antes, uma última passagem por Sirius e M42. Fim de noite. Excelente para ser a primeira, saborosa para deixar o gosto das outras que virão. Bom hobby é a astronomia amadora. Obrigado, a não sei quem, por tudo que está acima de nós e a capacidade que temos de observar. Obrigado aos meus pais por mais uma vez estarem presentes.
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