2 de outubro de 2006

Resposta a um e-mail.


Na manhã do dia 02 de outubro envie um correio eletrônico para muitos amigos no Brasil. Recebi uma resposta para a qual redigi a presente réplica. Como há nela muitas coisas das quais eu gostaria de ter escrito antes, mas por um motivo ou por outro, nunca havia compartilhado, resolvi importar o texto para cá e aproveitá-lo como post. A resposta que recebi está mais abaixo, e o correio original, após. Aguardo comentários.

Amigo,
Nos anos de que frequentei a Faculdade de Direito da Unifor, dentre pessoas do meio, tive como professores juízes, promotores, defensores públicos, advogados da união, procuradores da República, do Estado e do Município e como colegas alunos que também são funcionários públicos federais, estaduais e municipais, dos poderes legislativo, judiciário e executivo, poucas não foram as vezes que escutei conversas, na boca miúda, de diferentes tramoios políticos, de indícios de esquemas de corrupção deparados por estes funcionários, que iam fazer estes que você citou parecer histórias da caronchinha.

Também não foram poucas as vezes que se demonstrava a impotência relativa destes mesmos funcionários em saber de um esquema e não poder ir adiante em investigações ou coisas do gênero por que sabiam que o status quo dos grupos políticos dominantes de então deveriam ser mantidos. Mais de uma vez foi relatado para nós patrimônios de funcionários públicos, que ganhavamm sálarios módicos, estarem nas casas de centenas milhar ou unidades de milhão. Fosse por demagogia, desabafo, ou inimizade mesmo, estes professores, homens bem sucedidos, relatavam para a classe inteira alguma experiência ruim que haviam passado durante o dia por que viram que o sucesso profissional deles era uma coisa muito aparente e inútil. Por que de nada valia todas suas prerrogativas legais e pessoais para investigar este ou aquele caso, esta ou aquela pessoa, se eles tinham a certeza de não encontrar um clamor popular que fosse possível respaldar qualquer atrevimento que eles pensassem em ter. Clamor popular que só a imprensa é capaz de formentar, quando não criar. É um confronto que deixa de ser jurídico e passa a ser político. Estes profissionais sabem que neste nível de disputa a força política dos bastidores ganha da legalidade do papel.
Mas agora o que vemos é o contrário: não se fala mais em pretensos acusados ou eventuais réus, mas já se fala em culpados, bandidos, mentirosos e ladrões. Mesmo sem antes serem seguidos os passos legais que todos sabem que devem ser atendidos para se enfrentar tamanhos problemas de escala nacional. Mas o avesso acontence: atropelos à legalidade para que se atenda pretensões políticas. O problema é que o insistente martelar de denúncias faz seu dano. Seja pela falta de isenção crítica dos receptores, seja pela facildiade que se tem em estar com a maioria em apredejar a vidraça alheia. E perseverança da burrice, ou melhor, dureza, está na infelicidade da razão, e não da felicidade da ignorância, tomando emprestado Epicuro.
Não me orgulho nem um pouco de ser cidadão de uma das economias que já ocupou um cargo dentre as dez mais, e que é vice-líder em concentração de renda e uma das líderes em diferença entre os mais ricos e os mais pobres. Uma das piores em IDH. No meu humilde julgar, a classe política que esteve no poder nas últimas décadas, para olhar curto, teve sua chance. Os recursos materiais e pessoais do Brasil são quase inesgotáveis. E que limitadas nações se tornaram hoje potências economicas, algo que temos, com humildade, como queixo caído, longe de ter algo parecido, que apreciar. Não falo em termos de riquezas individuais, mas sim de um conforto um passo adiante do nível mínimo de sobrevivência para a população em geral. Da possibilidade de ser alguém na vida pela simples razão do estado lhe dar os mínimos recursos e meios necessários. Tanto eu como você tivemos oportunidades de crescer em famílias que garantiram nossa educação em escolas particulares, sempre acompanhados de todos meios materiais possíveis para chegar onde chegamos e onde ainda poderemos chegar. Mas se não tivessemos nascido no patamar que nascemos, se dependêssemos do estado, do poder público brasileiro, estaríamos fadados a fazer parte da África que está presente dentro do Brasil. Poucos não são os brasileiros que sequer têm certidão de nascimento, daí você imagina o resto que faltará durante toda a vida para estas pessoas. São pessoas que nunca entrarão nas estatísticas porque simplesmente nunca existirão. Por esta razão, por não fazer parte de um nação, como eu e você fazemos, a condição delas é menos humana e mais próxima a de uma rês.
Para resumir, se é que isto é possível. A oportunidade tem que ser dada. O confronto de ideias deve ser respeitado, em um diálogo válido. Política sana se faz de alternância, e a brasileira sempre esteve nas mãos das elites. E estas, infelizmente, não souberam fazer o básico para o geral do Brasil, e sim para a exceção da qual elas fazem parte. Se a culpa é ou delas, ou de nossa formação, ou da nossa remota colonização(como algum irresponsavél lembra), ou de qualquer outro fator conhecido ou não, não cabe aqui tentar saber. Mas que elas não fizeram, elas não fizeram. É fato irrefutavel. Não se pode alterar tais bases, do Brasil, em quatro anos. Muito menos se há um debate politico fétido no ar, que impede que o foco seja levado para onde deveria estar. Mas se isto não foi feito antes, por que seria feito agora? Se o próprio PT, e afins , sempre atacou com denúncias, por que ele não soube evitar que elas acontecessem? Toda grupo de pessoas tem sua corja, e pelos atos da petista, que visivelmente dá as cartas, não se pode taxar a maioria. Faltou muito para eles, aqui falo no geral, acertarem, muito. Mas tenho certeza, que para a maioria do povo brasileiro, do qual eu não faço parte, é mais possível que o PT, e não suas antagônicas forças políticas, seja a ala capaz de dar, algum dia, um mínimo de conforto social para o Brasil.

Abraços e lembranças, Nivardo.
----- Original Message -----
To: nivardo
From:
Sent:
Tuesday, October 03, 2006 12:08 AM
Subject: Re: Significados da derrota e da vitória.

Isto é o que se pode chamar de um texto imparcial. Com uma análise profunda e isenta da situação política.
Muito bom. Vc deve pensar, né?
Vc também tem algum texto do Emir falando do escândalo dos sangue-sugas, do mensalão, do dinheiro na cueca, da quebra do sigilo bancário do caseiro, da origem do dinheiro para comprar por R$1,7M um tal dossiê, do investimento de R$5M da Telemar na empresa do Lulinha, das notas frias do cartão de Crédito da presidência, do dinheiro do duda mendonça, do Carequinha, lembra??..., dos amigos dos filhos do lulinha viajando as nossas custa com aeronaves da fab,
O Lula está fazendo conchavo até com Newton Cardoso,....não dá. É muito mau carater.
Nivas, continue assim, vc vai acabar fazendo parte do núcleo burro,... digo duro do PT.

On 10/2/06, nivardo <nivardomelo@gmail.com> wrote:

23/09/2006, por Emir Sader.

Significados da derrota e da vitória

A política econômica, tal qual transparece claramente do discurso de campanha tucano, seria uma retomada forte dos contornos mais ortodoxos do modelo liberal. O "choque de gestão" que Alckmin anunciou – e deixou guardado, pelo contraste altamente negativo para ele diante do "choque social" com que Lula respondeu – expressa isso, além da equipe econômica que ele ameaçou lançar mão. Seria uma retomada da política econômica de FHC onde este havia sido obrigado a deixá-la: a privatização da Petrobrás, da Eletrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, voltariam centralmente à pauta do governo. FHC recém acabou de reivindicar seu processo de privatizações, fortalecendo o compromisso programático dos tucanos com o liberalismo econômico ortodoxo.

A política internacional tucana aponta claramente – nas declarações do candidato e de FHC – para um abandono da centralidade d eixo Sul/Sul e a retomada de relações privilegiadas com os EUA, que implicariam no fim definitivo do Mercosul e na aceleração da Alca, com a assinatura de Tratado de Livre Comércio com os EUA.

As políticas sociais voltariam à inocuidade que tiveram nos 8 anos em que foram dirigidas pela ex-primeira dama, Ruth Cardoso, retomando a centralidade das metas econômico-financeiras. No plano educacional, a privataria, que multiplicou como nunca na nossa história as faculdades particulares, retomaria seu caminho. Os movimentos sociais – o MST em primeiro lugar – seriam vítimas de repressão e criminalização. O salário mínimo seguiria defasado em termos de poder aquisitivo diante dos preços, a desigualdade retomaria seu caminho histórico de consolidação.

Não é estranho, diante da possibilidade que a oposição de direita propõe – ou ameaça -, que o pronunciamento das urnas se anuncia como uma vitória esmagadora do governo Lula. Apesar de não haver saído do modelo econômico neoliberal – responsável pelo baixo crescimento econômico -, apesar da política que tem favorecido os trangênicos em detrimento da política de auto-suficiência alimentar, do andamento lento da reforma agrária, da repressão às rádios comunitárias, do pouco incentivo ao software alternativo –, apesar disso tudo, o povo percebe que a melhor alternativa hoje é a da reeleição.

A derrota do bloco tucano-pefelista será uma grande derrota da direita no Brasil. Ela ganhou nova cara com o governo FHC, que promoveu a aliança da elite paulista com a nordestina, em torno do plano de estabilidade financeira, da privatização, da abertura acelerada da economia, da desregulamentação, da projeção do capital financeiro – em sua forma especulativa – ao posto hegemônico na economia, entre tantas outras coisas, todas regressivas e negativas para o Brasil. O espaço para o crescimento e fortalecimento da esquerda voltará a ser amplo. Para o que será necessário que o governo leve à prática um novo modelo econômico, com crescimento, distribuição de renda, criação de empregos, fortalecimento da organização popular, consolidação dos projetos de integração regional e de articulação com o Sul do mundo.

Essa derrota deve representar uma nova oportunidade para formular e desenvolver um projeto posneoliberal, valendo-se da divisão e desconcerto que já se apossou da direita – dos seus lideres políticos, dos seus cronistas na mídia, dos dirigentes partidários. Valendo-se também do novo caudal de votos recebidos, da composição claramente popular dessa votação, da desarticulação dos discursos da direita, abre-se espaço para um discurso de democratização social, de soberania nacional, de integração regional, de reformas democráticas do Estado e do conjunto do sistema político.

Essa nova oportunidade será, ao mesmo tempo, uma nova oportunidade para a esquerda se recompor, recuperar capacidade de formulação de propostas e de mobilização social, de protagonismo político – nacional, regional e internacional -, enfim, reaparecer como alternativa para a crise hegemônica em que vive o país, produto das políticas neoliberais. Para que a derrota do bloco de direita – tucano-pefelista – represente realmente uma vitória da esquerda e do movimento popular.



Difícil decolagem.

Em um país repleto de limitações institucionais, recheado com uma sociedade das mais desiguais que existe sobre a face do globo terrestre,...