Em um país repleto de limitações institucionais, recheado com uma sociedade das mais desiguais que existe sobre a face do globo terrestre, fundada em pilares escravocratas e paternalista com efeitos visíveis no presente, seria necessário uma imprensa comprometida com a ética e moral, para ficar no mais básico, para o fim de decolar deste pântano de imoralidade e ausência de comprometimento com o próximo.
O jornalista Sidney Resende, que apresenta(?) algumas edições do Em Cima da Hora na Globo News, foi demitido da CBN, que pertence, assim como a Globo News, às Organizações Globo, esta sucursal do cramunhão em terras de tamoios. Liberdade de opinião na linha editorial da Globo? Para quê? Ameaçear ficar fora do poder por mais 4 anos é uma aposta muito cara para o capital de elite política-econômica nazi-fascista brasileira. Este negócio de transformar miserável em pobre e pobre em classe C e D é intragével para quem sempre manteve o timão deste país continental nas mãos.
Escrever palavras sem vida em meu ser. Tudo se foi. Todo levado. Daqui, ainda não sei o que sou amanhã. Não me resta muita seiva de calor no meu centro. Lágrimas já não bastam, somem como se nunca houvessem existido. A melancolia avança, o descampado é quase inteiro, pleno e dela. Pouco restará se ela não vem. E que se acompanhe de alguma compaixão, pois desta já não me tenho muita.
Toda a noite me observa. Irascível, impenetrável; que por sua vez, me debulha a alma. Cerca e escanteia meus fantasmas. Interpreta meus vazios e sustenta minhas chagas. De soslaio, me vê expirando, indo-se o tempo, levado pelas noites.
Tantos foram os amores, tantos foram as erosões. Já não sei o que sobrou. Um inventário de um xadrez de bilis nem se presuma realizar. O resultado será se não outro: uma árvore sem amor, reverberando suspiros de pretensões nunca vividas. Alimentando-se de dores indesejadas para somente uma vida, para tão poucos sóis. Me calo e consinto com o Universo: que quiserdes? Aqui me tens. Desfaça-se desta carcaça que aquelas noites extorquíram. Tão bela é a fortaleza externa, tão arruinada é a aldeia do meu vigor.
Um grande prado vazio, carente de luz, zingrado por entes caquéticos e errantes, já sem nome, passado; sem parente ou lembrança que lhe verta uma memória. neste prado corro solto. Infinitamente, solto. Cônscio de carregar uma solidão que já me faz em além de amigo.
Se há algo de luz neste oco, será aquelas memórias de noites passadas, dos beijos e lábios das minhas morenas, eternas dentro de mim, aonde quer que eu vá.
Ficares em paz, meu amigo, o mundo haverá de trazer-te aquilo que outras marés te levaram.
Será preciso muito
tempo para a sua ausência ser aceita. Por enquanto vou realizando, a
cada dia, novas experiências por conta de sua partida no domingo. A
primeira vez que ouço a Asa Branca, a primeira vez que percorro a
Barão de Studart, tão ligada à minha infância, a primeira vez que
pedalo, a primeira quarta-feira... enfim, uma infinidade de "novas"
experiências por você não estar mais neste mundo. É quase
inaceitável. São 35 anos de você, sempre ali...
Estou me despedindo de
muitas lembranças nestes dias. Meus cartões postais endereçados à
rua Cel. Linhares cessarão. O segundo café-da-manhã afanado no
Paracuru não será mais repreendido. Da mesma forma, não precisarei
mais correr e atravessar o sítio para lhe desejar Feliz Ano Novo.
Meus telefonemas para o 6560 para escutar um "Prooonto!"
também chegaram ao fim. Uma lembrança a menos em minhas viagens,
uma recordação que não precisarei mais fazer... Coisas tão
pequenas, mas que para mim tinham tanto significado.
Mas você persistirá,
mais uma vez. Como uma árvore que foi cortada, se foram os seus
ramos, os seus olhos azuis, o sorriso na sua face e seus cabelos
macios; mas ficaram as raízes, fincadas sob o solo, escondidas em
nossas almas: seus ensinamentos, naquela voz única, seus exemplos,
suas palavras de contemplação do mundo, da infinitude dos oceanos,
da admiração que a senhora tinha daquilo que Deus havia feito neste
mundo, imperfeito pela maldade humana.
Repouse, vó. A senhora
esteve aqui por muito tempo. Seríamos dos mais egoístas se
aspirássemos ainda mais sua persistência conosco. A senhora
conheceu a vida trinta e um anos após terminar o Império
brasileiro, dois anos após terminar a Primeira Guerra, nosso
presidente era Epitácio Pessoa, seus pais, e muitos daqueles que
conviveram consigo, nasceram ainda no século XIX. Tendo casado em
1937, a senhora esteve "casada" por 76 anos! Foram anos
como casada o que muitas pessoas não tem de vida!
Parabéns, vó! Você
viveu uma vida histórica, que faz parte da história de um país já
tão distante. Com a sua partida, também lamento que tantas
lembranças que a senhora bem guardava na memória irão com você.
Viveu em muitas cidades no interior do estado, em épocas de estradas
carroçais, medicina precária, comunicações lentas e distâncias
em léguas. Criou e perdeu filhos neste cenário inóspito que foi o
Ceará em meados do século XX. Muitos hoje são incapazes de
suportar os fardos que a vida traz, criando famílias de um ou dois
filhos, e a senhora conseguiu, mudando sempre de cidade em cidade,
criar cinco dentre oito filhos. Tento imaginar quantas pessoas assim,
como esta história de vida, existiriam em Fortaleza. Não devem ser
muitas.
E eu, seu neto que não
tem Barroso no nome, me despeço e prometo: no dia em que as estrelas
caírem do céu vamos nos reencontrar e nossas arengas retornarão.
Das coisas que te quero dar, tantas
estrelas e saudades para compartilhar. O fundamental é mesmo a tua
companhia, de todas as ausências, a tua é a que não suporto. Precisando
respirar, vou em ti buscar meu alento. Encontrar minhas possibilidades
no vislumbre da tua beleza, sentir o teus aromas, a cada despertar que
compartilharmos. Sozinho não quero mais, é preciso dividir nossas dores.
Daquilo que me pedes, não sinto limites para teus desejos. Sou teu
desejo em si. A consciência alheia de minhas vontades pertence aos teus
anseios. É demais, mas é o que pede meu peito, é a fluência dos meus
sentidos centrado em única sensação: o anseio de ti.
Na
minha ronda pela tua presença, um vazio caminha naquilo que chamo de meu
corpo. No que resta do meu brio, são teus breves vestígios que me regam
a alma. A alma que por ti permanece.
Na distância é
difícil ver tudo isto. Mas de perto a desolação é obtusa, sonegada.
Diferente, pois, não seria. De outra forma, aproxima-te de mim que
renasço. Me abrigo em ti e compartilharemos as estrelas e as
constelações.
Veremos o teu Carneiro de Áries altivo entre o Touro e Peixes.
Sob as estrelas, e nenhuma outra testemunha, vou te contar mil segredos
dos mundos que vi, das terras de Hades às planícies de Hera.
Com
tuas mãos dentre as minhas, selaremos o cavalo alado e margearemos o
Erídano. Nossa derradeira viagem nunca chegará: viveremos no conto dos
poetas, na prosa do desocupados e, ignorantes destes, ocuparemos nosso
próprio locus na infinitude das luzes eternas.
Cavalos marinhos. Fale deles para mim. Explique a natureza. Explica para mim a tua beleza. Desconhece teu sorriso. Traz a ventura do teu rosto com a esperança nele contida. Naqueles dias que você existe, minha supremacia sobre todos é absoluta. Me parte a vida naquilo que está você.
Cada alvorada, cada remanso, cada ocaso do sol, ali estarão nossas imagens. Nossa teimosia em inventar o amor. Me diz o que acontece enquanto não existimos. Quem dirá aquilo que sou, se não você? Quem serei eu, se não tudo aquilo que está dentro de você? Só um alguém, de acordes perdidos, sem melodia, nem tom. Não desista de nossa prosa. Dela tiro meu mundo.
Pode continuar, os cavalos marinhos ali estão, sob as águas, flutuando entre nós dois. Não haverá interrupção. Enquanto eu procurava achar alguém, eles estiveram sempre ali. Meu amor por ti que não havia nascido. Nossas paralelas que se cruzaram, não razão improvável do mundo e de nossos espíritos. É estranho aquilo que me descreve. O nosso encontro. Comento contigo nossa aparência. Sorria contigo nossas diferenças. Fazer nós dois será tudo que me resta? Estará aí quando eu complete a resposta? A nossa amizade também estará na razão de um amor em asilo?
Tenho andado distraído, na cama tuas conversas têm todo o tempo do mundo. Sempre em frente quando o sagrado e selvagem do nosso comum chamar. Te darei a eterna tempestade do tempo para que você me abrace forte e me conte dos cavalos marinhos, no escuro.
O país acordou hoje com novas cautelas expedidas pelo governo federal, via Ministério da Fazenda, com o intuito de reforçar outras já existentes. É um arsenal pronto e instalado contra eventuais efeitos de contaminação internacional. Sendo, majoritariamente, um produtor de commodities, o Brasil depende dos grandes países industrializados para manter-se fora da turma da recessão econômica. Os resultados desta prevenção virão com o tempo, mas é de certa forma confortante, saber que o país está vigilante.
É fator claro e presente nestes anos de governo trabalhista, que o Brasil ganhou um novo motor econômico: seu crescente e quase inesgotável mercado interno em expansão. Mas não será possível contar e assegurar-se sempre desta base da economia para refugar medidas prudentes em momentos de extremas incertezas. Pois, enfim, o que deve ser protegido é a família ordinária brasileira; a camada assalariada que sempre será a mais atingida e sofredora em eventuais momentos de arrocho.
O povo deve estar ciente do momento frágil que todos os velhos mercados percorrem neste instante. Cada qual com suas mazelas e gargalos, luta há pelo menos três anos para sair deste temporal que teima em não se desfazer. De um lado do Atlântico, já saiu o presidente irresponsável e inconsequente, deu lugar à uma promessa democrática que, até agora, não soube ou não quis adotar medidas mais exigentes e duras contra a escassez de crédito em seu país. Do outro lado, sucessivas mudanças de governos também foram inócuas. O problema da velha Europa não é a ideologia de seus governantes, mas sim, um desenho que não se terminou de traçar no cerne da União Europeia: a desvinculação plena da política fiscal de cada país em favor de um governo central europeu.
Este problema, menos econômico que político, não tem fácil saída: como gerar e garantir uma reserva mínima de legitimidade para um governo econômico central? Que base e desenho político deverá ser elaborado para criar fatores que culminem com um novo tipo de convivência entre estados, nações e entes multilaterais?
Enfim, tanto no Brasil como alhures, são momentos profundos de incertezas. Não de ajustes no desenho institucional vigente, mas uma busca de novos mecanismos e meios sociais, econômicos e políticos que resguardem um bem-estar coletivo e global. Ver o Brasil como uma possível solução e não, pelo menos por enquanto, como mais uma vítima, deverá ser um sentimento único e inédito na história deste país.