Escrever palavras sem vida em meu ser. Tudo se foi. Todo levado. Daqui, ainda não sei o que sou amanhã. Não me resta muita seiva de calor no meu centro. Lágrimas já não bastam, somem como se nunca houvessem existido. A melancolia avança, o descampado é quase inteiro, pleno e dela. Pouco restará se ela não vem. E que se acompanhe de alguma compaixão, pois desta já não me tenho muita.
Toda a noite me observa. Irascível, impenetrável; que por sua vez, me debulha a alma. Cerca e escanteia meus fantasmas. Interpreta meus vazios e sustenta minhas chagas. De soslaio, me vê expirando, indo-se o tempo, levado pelas noites.
Tantos foram os amores, tantos foram as erosões. Já não sei o que sobrou. Um inventário de um xadrez de bilis nem se presuma realizar. O resultado será se não outro: uma árvore sem amor, reverberando suspiros de pretensões nunca vividas. Alimentando-se de dores indesejadas para somente uma vida, para tão poucos sóis. Me calo e consinto com o Universo: que quiserdes? Aqui me tens. Desfaça-se desta carcaça que aquelas noites extorquíram. Tão bela é a fortaleza externa, tão arruinada é a aldeia do meu vigor.
Um grande prado vazio, carente de luz, zingrado por entes caquéticos e errantes, já sem nome, passado; sem parente ou lembrança que lhe verta uma memória. neste prado corro solto. Infinitamente, solto. Cônscio de carregar uma solidão que já me faz em além de amigo.
Se há algo de luz neste oco, será aquelas memórias de noites passadas, dos beijos e lábios das minhas morenas, eternas dentro de mim, aonde quer que eu vá.
Ficares em paz, meu amigo, o mundo haverá de trazer-te aquilo que outras marés te levaram.
LNMF
05.02.15