O país acordou hoje com novas cautelas expedidas pelo governo federal, via Ministério da Fazenda, com o intuito de reforçar outras já existentes. É um arsenal pronto e instalado contra eventuais efeitos de contaminação internacional. Sendo, majoritariamente, um produtor de commodities, o Brasil depende dos grandes países industrializados para manter-se fora da turma da recessão econômica. Os resultados desta prevenção virão com o tempo, mas é de certa forma confortante, saber que o país está vigilante.
É fator claro e presente nestes anos de governo trabalhista, que o Brasil ganhou um novo motor econômico: seu crescente e quase inesgotável mercado interno em expansão. Mas não será possível contar e assegurar-se sempre desta base da economia para refugar medidas prudentes em momentos de extremas incertezas. Pois, enfim, o que deve ser protegido é a família ordinária brasileira; a camada assalariada que sempre será a mais atingida e sofredora em eventuais momentos de arrocho.
O povo deve estar ciente do momento frágil que todos os velhos mercados percorrem neste instante. Cada qual com suas mazelas e gargalos, luta há pelo menos três anos para sair deste temporal que teima em não se desfazer. De um lado do Atlântico, já saiu o presidente irresponsável e inconsequente, deu lugar à uma promessa democrática que, até agora, não soube ou não quis adotar medidas mais exigentes e duras contra a escassez de crédito em seu país. Do outro lado, sucessivas mudanças de governos também foram inócuas. O problema da velha Europa não é a ideologia de seus governantes, mas sim, um desenho que não se terminou de traçar no cerne da União Europeia: a desvinculação plena da política fiscal de cada país em favor de um governo central europeu.
Este problema, menos econômico que político, não tem fácil saída: como gerar e garantir uma reserva mínima de legitimidade para um governo econômico central? Que base e desenho político deverá ser elaborado para criar fatores que culminem com um novo tipo de convivência entre estados, nações e entes multilaterais?
Enfim, tanto no Brasil como alhures, são momentos profundos de incertezas. Não de ajustes no desenho institucional vigente, mas uma busca de novos mecanismos e meios sociais, econômicos e políticos que resguardem um bem-estar coletivo e global. Ver o Brasil como uma possível solução e não, pelo menos por enquanto, como mais uma vítima, deverá ser um sentimento único e inédito na história deste país.